Brechas em sites do Bradesco e BB expõem milhões de clientes
Diferentes brechas de segurança
encontradas nos sites do Banco do Brasil, do Bradesco, do serviço de
pagamentos Moip e da Boa Vista Serviços (administradora do cadastro de
devedores SCPC) expuseram recentemente dados privados de milhões de
pessoas.
Os problemas foram descobertos pelo analista de sistemas Carlos
Eduardo Santiago, 21, que os demonstrou à Folha após ter sido ignorado
pelas empresas. "Ao Moip, à Boa Vista e ao Bradesco, relatei as questões
há cerca de um ano."
A seção de seguros
residenciais da agência virtual do Banco do Brasil permitia, até a
quinta-feira passada, que qualquer pessoa com acesso à área (cliente
segurado pelo banco ou em posse desses dados) visualizasse CPF, nome,
endereço, telefone, e-mail, agência e número da conta de outro segurado,
por meio de uma simples alteração no código, que pode ser visualizado
com qualquer navegador moderno --não demanda ferramenta ou conhecimento
avançados.
Segundo Santiago, o número de clientes do Banco do Brasil que foram expostos pelo erro é de 1,85 milhão, estimativa com base na sequência do código dos documentos disponíveis durante pelo menos duas semanas.
Contatada pela Folha na quinta, a companhia solucionou a falha no mesmo dia.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o Banco do Brasil disse
que "o problema não teve associação com qualquer tipo de transação
financeira" e que, por isso, "não trouxe risco para os clientes."
Um grande número de boletos bancários
gerados pelo Bradesco está visível e expõe informações de clientes do
banco, como CPF, nome, endereço, agência e número da conta, além do
valor e do estabelecimento do pagamento em questão.
Consultada, a companhia disse que esse sistema "é utilizado há
mais de dez anos e o banco nunca registrou fraude ou problema de
clientes."
A brecha permite que os documentos sejam encontrados até por meio
de uma pesquisa no Google e consiste em uma URL aberta (um link de
internet desprotegido). Falha semelhante foi verificada no site do Moip,
que presta serviços de pagamento on-line para diversas empresas, e
permitia ver o mesmo tipo de dado.
O link desprotegido, que é hospedado pelo Moip, continua
disponível, mas a empresa diz não ter responsabilidade sobre ele. "As
URLs dos boletos em questão foram disponibilizadas pelos próprios
vendedores em seus sites."
Em sua página, a companhia diz processar 300 mil transações virtuais por mês.
DÉBITO À VISTA
A seção de consulta a débitos do site da Boa Vista serviços,
responsável pelo SCPC, permitia até a quinta passada (quando o erro foi
corrigido, após o contato) que fossem visualizadas as dívidas
relacionadas a um CPF. Segundo a empresa, cerca de 2,5 milhões de
pessoas estão catalogadas no sistema.
OUTRO LADO: BANCO DO BRASIL
"O Banco do Brasil corrigiu imediatamente falha pontual restrita
às consultas de propostas de Seguro Residencial. O problema não teve
associação com qualquer tipo de transação financeira. Portanto, não
trouxe riscos para clientes. O BB avalia que o problema decorreu de
atualizações constantes que visam o aprimoramento dos sites. Por fim, o
BB informa que revisa periodicamente procedimentos de controles de
qualidade, a fim de reduzir os riscos operacionais. Além disso, o Banco
segue normativos internacionais que tratam de segurança de TI em
bancos."
OUTRO LADO: BRADESCO
"O Bradesco esclarece que trata-se de uma URL [link] válida do
comércio eletrônico do banco. A mesma não representa falha e nem
vulnerabilidade, pois não é possível alterar os dados do boleto, porém
permite que a loja conveniada ao banco mande a URL para que o comprador
gere o boleto para pagamento. Por ser uma URL é passível de aparecer no
Google como qualquer outra página. O fato de mexer no MerchantId e
OrderId [parâmetros que, se alterados, exibem outros documentos] e
aparecer outros boletos gerados também não implicam em falha ou fraude,
pois não é possível alterar o status da compra ou disponibilizar
informações que sejam sigilosas. A URL é segura e utiliza o protocolo de
segurança SSL, autenticado com certificado digital válido, atendendo as
melhores práticas de segurança. Vale salientar que esta solução está
disponível neste formato há mais de 10 anos e o Banco nunca registrou
fraude ou problemas junto aos clientes."
OUTRO LADO: BOA VISTA SERVIÇOS/SCPC
"O serviço de autoconsulta de CPF é oferecido gratuitamente para
que o consumidor consulte sua situação. Temos cerca de 2,5 milhões de
usuários cadastrados. A aplicação é separada dos outros ambientes de
negócios da Boa Vista --isso é um ponto importante. Além disso, a
consulta é bem limitada.
Ela, como uma aplicação que tem o seu público amplo, é desenhada
com termos de uso. O consumidor deve consultar o seu CPF, e não o de
outras pessoas.
Identificamos isso, mas já bloqueamos aquele caminho. É um
caminho técnico e que o usuário comum do portal não faria, porque
precisa de um conhecimento para abrir linhas de código. Já está
bloqueado."
OUTRO LADO: MOIP
"O Moip vem a público esclarecer a questão sobre os boletos
indexados pelo buscador Google. O Moip não divulga, transmite ou publica
qualquer informação de seus clientes, tampouco permite a indexação de
dados particulares nos buscadores da internet. Todos os boletos gerados a
partir das soluções do Moip são automaticamente retiradas de qualquer
indexação deste ou qualquer outro buscador. As URLs dos boletos em
questão foram disponibilizados pelos próprios vendedores em seus sites,
permitindo assim suas indexações pelo Google.
Já entramos em contato com a equipe técnica do Google para o
impedimento de novas indexações futuras, ainda que publicadas por
terceiros."
fonte: Folha