Casos suspeitos de lavagem de dinheiro no PI já passam de 2 mil
O
relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf),
órgão do Ministério da Fazenda, elaborado com base em dados até abril
deste ano, revelam que o número de casos suspeitos de lavagem de
dinheiro no Piauí já chega a 2.265. As comunicações são o primeiro passo
para o Coaf iniciar o monitoramento de uma operação de lavagem de
dinheiro. Caso haja indícios de irregularidades, são, então, elaborados
os relatórios que serão encaminhados aos órgãos competentes.
O
Coaf monitora operações em diversos setores como as loterias, cartões
de crédito, lojas de jóias e antiguidades, compra de imóveis, mercado de
seguros e previdência. Entre as atividades que recebem atenção especial
do órgão estão as "operações atípicas" informadas pelos bancos, isto é,
movimentações suspeitas de dinheiro que podem estar encobrindo alguma
ação ilegal.
Os
relatórios elaborados pelo Coaf servem de base para a abertura de
investigações pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. Na
prática, o Coaf não investiga. Ele apenas detecta movimentações em que
possa haver ilícitos e as encaminha para a polícia e ao Ministério
Público. Entre as regiões nordestinas, o que registrou o menor número de
casos este ano foi o Piauí. Entre as regiões que apresentaram o maior
número de comunicações consideradas suspeitas aparecem Pernambuco
(19.643), Bahia (14.739), Ceará (10.931) e Maranhão (5.535).
A
"luz amarela" do Coaf acende quando se detecta alguma operação atípica,
ou seja, quando se verifica anormalidade frente ao perfil do cliente,
ou automática, quando se detecta operações em espécie acima de R$ 100
mil. A lavagem de dinheiro tem sido vista como um problema social. De
acordo com os dados do Coaf, tem sido cada vez mais comum o número de
casos de lavagem de dinheiro oriundo do tráfico de drogas e corrupção,
seja ela oriunda de improbidade administrativa ou de fraudes em
licitações.
Os
maiores índices nacionais são dos Estados da região Sudeste e Sul do
país. São Paulo lidera o ranking dos estados brasileiros onde foi
detectado o maior número de casos: 199.608. Mais do que a soma dos casos
de todos os nove Estados nordestinos. Em seguida, aparece o Rio de
Janeiro com 54.768 comunicações suspeitas, conforme relatório do Coaf. A
delegada Eugênia Nogueira, que é também diretora da academia de Polícia
Civil do Estado do Piauí (Acadepol), responsável pelas investigações de
crimes de lavagem de dinheiro, afirma que a lavagem de dinheiro, não só
no Piauí, mas em todo o país, sempre está atrelada a um crime
subsidiário, ou seja, está relacionado a outro crime.
"Os
criminosos vendem armas, drogas, ou até mesmo desviam recursos e
'lavam' esse dinheiro com práticas legais. São verdadeiras empresas
montadas para que o dinheiro retorne de forma legal", comentou a
delegada, acrescentando que a imaginação tem sido um dos grandes
contribuidores para a disseminação da prática. "Geralmente, o dinheiro é
desviado e introduzido na compra de ativos ou transferidos entre contas
ou depositado em paraísos fiscais, geralmente em país com economia
ascendente", explicou Eugênia Nogueira.
Os
tipos de lavagem de dinheiro tem se tornado bem comum na administração
pública, com fraudes a licitações e desvio de recursos enviados via
Governo Federal a Estados e Municípios. É cada vez mais comum direcionar
processo licitatório a um fornecedor, montando a licitação para que uma
determinada empresa seja a vencedora ou colocar na licitação um preço
acima dos valores de mercado para que os recursos remanescentes possam
ser desviados.
A
delegada Eugênia Nogueira aponta que com o desenvolvimento da
informática e a facilidade nas transações bancárias, o trabalho daqueles
que utilizam a lavagem de dinheiro como atividade é facilitado. "As
organizações criminais estão se tornando cada vez mais audaciosas, no
sentido de montar esquemas para lavar dinheiro e as facilidades
operacionais acabam contribuindo muito para isso", frisou.
Contudo,
a diretora da academia da Acadepol aponta o crescimento se deve também
por conta dos bancos, que vem investindo em treinamento de pessoal e em
novos sistemas para detectar as irregularidades. "E isso é importante,
porque com investimentos é possível se tentar detectar o ilícito e
coibi-lo antes que ele chegue a se concretizar", comentou.
Grupo critica demora das ações no Judiciário e baixo retorno dos recursos
Balanço
elaborado pelo Grupo de Ação Financeira (Gafi) revela que faltam leis,
além de disposição das autoridades para sequestrar bens comprados com
dinheiro ilícito e preparo dos tribunais superiores para combater o
crime, que corruptos e criminosos do colarinho branco.
O
Grupo, criado no âmbito do G7, destacou que no Brasil ainda há muita
impunidade, principalmente por deficiências na Justiça. Em resumo, a
crítica é de que muitas investigações contra lavagem demoram no sistema
Judiciário ou não chegam ao resultado final, que seria a prisão dos
envolvidos.
O
resultado da avaliação também envolve o fato de poucas vezes o dinheiro
objeto de crime retornar para seu local de origem. Entrar na rota de
países de alto risco e não-cooperativos do Gafi é um indício de
problemas para a economia.
Segundo
o Gafi, os riscos maiores de lavagem de dinheiro no Brasil estão em
regiões de fronteira e na economia informal, onde o Coaf reconhece que
ainda há deficiências.
fonte:piauinoticias


