Patos do Piauí, uma cidade brasileira onde não nasce ninguém
Sem transporte público, moradores da zona rural têm de pagar entre R$ 15 e R$ 20 para ir de moto até a cidade.
O bebê André dos Reis Ferreira, de menos de um mês, não nasceu na cidade onde mora com seus pais, os agricultores Agnaldo André Ferreira e Maria do Divino dos Reis, mas em Picos, a 81 quilômetros de Patos do Piauí. A Unidade Mista de Saúde Aluízio Coelho dos Reis, o único estabelecimento de saúde de Patos, só atende casos ambulatoriais e faz pequenas suturas.
Os acidentados na rodovia federal que
atravessa a cidade ou pacientes com problemas de pressão alta, por
exemplo, têm de ser levados para Picos ou para Teresina.- Não tem
maternidade e, quando é caso de primeira gravidez, como foi o caso da
Maria, eles mandam logo para Picos ou Teresina, porque há risco de
cesariana, e a Unidade não faz nenhuma cirurgia.
Por isso, nenhuma criança de Patos do Piauí nasce em Patos - conta a dona de casa Ivana Lopes Ferreira, tia de André.
Em
Patos, pacientes que têm problemas de saúde durante a noite gastam até
R$ 200 de frete de carro para serem atendidos em hospitais de outras
cidades.
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Quando sobe minha pressão, fico sem ar e com dores, sou obrigado a
pagar R$ 200 para alugar um carro para chegar à cidade de Jaicó (48km
distante). Ou eu pago ou eu morro, porque, apesar de a unidade ficar
perto de minha casa, sempre está fechada durante a noite - afirma o
agricultor Alberto Evangelista, de 57 anos.
Sem transporte público, moradores da zona rural têm de pagar entre R$ 15 e R$ 20 para ir de moto até a cidade.
A
falta de atendimento médico é apenas um dos problemas. Na prefeitura,
poucos são os computadores, e existem só quatro secretarias - a de
Administração e Finanças, ocupada por um agrônomo; a de Educação, por
uma professora; a de Agricultura, também por uma professora; e a de
Assistência Social, por uma agente comunitária de saúde.
Sem
conseguir aprovar projetos, o município arca com todas as despesas, o
que gera déficit mensal de R$ 100 mil. Segundo o prefeito Sílvio José da
Silva (PMDB), a única renda provem do Fundo de Participação dos
Municípios, no valor de R$ 400 mil mensais. O resultado é uma cidade sem
quadras de esporte, com a praça central depredada, sem saneamento, sem
biblioteca ou programas de assistência que o governo federal oferece.
Patos não aproveitou a oferta da Caixa Econômica Federal para a construção de casas pelo Programa Minha Casa Minha Vida.
- Mandei alguns projetos nas áreas de esporte e lazer, mas nunca tive retorno - diz o prefeito.
Fonte: Cidadeverde


